“A morte da caloria” (Death of the Calorie): O que significa isto na prática?
O artigo capa do número de Abril/Maio de 2019 da revista 1843, editada pelo grupo The Economist, tem este título inflamatório, “Death of the Calorie”. Imperdível para quem se interessa por nutrição e alimentação saudável, não concordas?
No interesse da total transparência, foi o meu marido que encontrou a revista no aeroporto de Joanesburgo mas, bom, ele nem teve tempo de ver o anúncio da contracapa, quanto mais o interior! Como que por encanto a revista voou para o meu colo e daí para a minha mala e regressou comigo para Lisboa…
O artigo está muito bem escrito, como é hábito neste grupo editorial. Foca-se num tema chave da atualidade – a obesidade é uma epidemia de escala mundial! – e levanta mesmo o véu que cobre alguns dogmas intocados desta área, com detalhes algo inflamatórios sobre interesses instituídos não só da indústria alimentar como mesmo de outras entidades com responsabilidades públicas.
Porque é que decidi comentá-lo?
Porque o artigo é tão inteligente, vasto e atual que merece ser mencionado e comentado.
E, ainda, porque há uma nota de rodapé no final que me suscitou algum pânico: “o autor perdeu 13 kg graças ao que aprendeu enquanto pesquisou esta história”.
É que o artigo em si não é um paradigma de dieta nem te dá um plano de ação. E fala em comer bacon quando se quer. Ou seja, corre o risco de ser mal interpretado!
Além disso, por tentador que seja dar a caloria por morta e enterrada, ainda precisamos dela para fazer afirmações tão interessantes como as que lemos no artigo:
“Cerca de 20% do consumo calórico diário alimenta a função cerebral”
ou ainda:
“Aproximadamente 75% do consumo calórico diário é usado pelo corpo humano para alimentar as suas funções vitais”
Ainda não temos um substituto válido para o conceito de caloria e até lá…
A história central em resumo
O artigo está focado na experiência individual de Salvador Camacho, um cidadão mexicano que aos 22 anos foi exposto a um stress traumático sério: o seu sequestro, com real risco de vida.
Em consequência deste trauma, atravessou um período de depressão que resultou em hábitos de vida e alimentares pouco saudáveis, que o levaram a um nível de obesidade tal que voltou a enfrentar a possibilidade de morte novamente, desta vez devido a problemas cardíacos.
Bom, tomada a decisão de perder peso, começa uma luta de anos contra a balança. A orientação tradicional de controlo das calorias consumidas e de aumento do exercício físico não produziram os efeitos esperados.
O Salvador passou anos a contar calorias sem resultados práticos. Só quando encontra um grupo de desportistas informados que o ajudam a ver a alimentação com outros olhos é que realmente consegue voltar ao normal. E, motivado pela sua própria experiência, acabou por se tornar investigador em nutrição, para perceber como ajudar outros como ele a encontrar uma dieta saudável e a gerir o peso de uma forma sustentada.
Números e outros dados interessantes
Há neste artigo alguns números que merecem ser lidos com atenção, além de alguns comentários que merecem reflexão… rimou mas não foi de propósito 🙂
“40% da população mundial acima dos 18 anos tem excesso de peso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde”
e,
“80% das pessoas que fazem dieta voltam a recuperar o peso perdido, no longo prazo”
Algo está mal… as pessoas não são obesas porque querem, nem voltam a ganhar os quilos perdidos por serem incompetentes.
A premissa do artigo, que eu subscrevo inteiramente, é que as populações em geral estão mal informadas, que os profissionais estão eles também pouco atualizados, e que os governos e demais autoridades não estão a fazer o que deveriam para mudar a situação.
O Salvador, protagonista do artigo, só conseguiu retomar o controlo do seu peso e da sua saúde quando encontrou um grupo de pares, de desportistas, que estava bem informado e que lhe explicou o que nenhum médico tinha feito: que ele tinha que começar a comer alimentos reais e nutritivos!
Basicamente: “esquece lá os pacotes e começa a comer carne, peixe, legumes e fruta!”
Como é que nenhum médico lhe tinha dito isto antes? Não entendo.
Isto faz-me lembrar uma nutricionista muito conhecida que conseguiu convencer a população portuguesa de que não faz mal comer pastéis de nata todos os dias porque só têm 200 calorias cada… “são um bolo mais saudável”!
– Sim?? E as gorduras trans da massa folhada? E o açúcar?
Ok, ok, voltando ao artigo…
Outra afirmação relevante:
“As tabelas nutricionais não são precisas.”
Bom, parece que a informação nutricional dada nas embalagens também não é à prova de bala: além de margens de erro permitidas (da ordem dos 20%, ou seja, relevantes) há diferenças de critérios de país para país.
Então, para que servem?
Fica a dúvida.
Na prática, eu – que não conto calorias e raramente me peso – uso as tabelas nutricionais para identificar a percentagem de hidratos de carbono em geral e de açúcar de um alimento – a minha regra é não comer nada com mais de 5% de açúcar.
Bom, a menos que seja um chocolate e aí a minha regra é apenas % de cacau acima dos 70%.
Mas são muito poucos os alimentos processados que compro.
Basicamente alguns iogurtes e o referido chocolate, escolhido com critério 😉
Mas então o que podemos aprender com o Salvador e o artigo?
Na minha opinião, várias coisas muito relevantes:
- Uma alimentação equilibrada à base de alimentos naturais, não processados, é o único caminho para uma dieta e um corpo saudáveis.
- O exercício físico é fundamental para a promoção da saúde em geral apesar de ter um papel limitado na perda de peso, especificamente.
- Diferentes métodos culinários resultam em alimentos com efeitos diferentes a nível de digestão e absorção de nutrientes.
- O consumo de vegetais é fundamental: o Salvador e a mulher encontraram o equilíbrio fazendo dois dias de alimentação exclusivamente vegetariana.
- Há que respeitar a noção de bio-individualidade: cada um de nós tem organismos diferentes. Temos também culturas diferentes. Temos, em resultado, necessidades diferentes. Por isso, é importante aprender a conhecermo-nos melhor para tomarmos maior controlo sobre o que comemos!
Conclusão
A caloria não está propriamente “morta” mas não te serve de base para a prática de uma alimentação saudável nem para a definição de uma dieta saudável que leve a uma perda de peso duradoura.
Todos os regimes alimentares que têm por base exclusivamente uma repartição de “macro-nutrientes” esquecem a necessidade fundamental que o corpo humano tem de minerais e vitaminas, que garantem o nosso equilíbrio físico e emocional.
Comentário à parte:
Lembras-te das aulas de história, quando aprendemos que os marinheiros dos descobrimentos foram dizimados pelo escorbuto, pois só comiam carne seca? Esta doença é uma condição de extrema carência de vitamina C.
Se procurares online, podes verificar que estão a surgir casos de escorbuto nos Estados Unidos e no Reino Unido. Resultado de uma dieta pobre em vegetais e fruta!
E apesar de toda a informação contraditória sobre dietas e alimentação, a única coisa que é coerente em TODOS os estudos é que uma alimentação maioritariamente composta por vegetais é a única forma de nos protegermos das doenças cardiovasculares e de minimizarmos o risco de incidência de cancro.
É por isso que aqui defendo que a principal prioridade numa dieta saudável hoje é garantir uma porção grande – posso dizer enorme? – de vegetais!
E o mesmo se aplica às dietas para perda de peso.
É por isso também que as minhas receitas são muito assentes numa alimentação vegetal e que no meu trabalho com os meus clientes este é sempre o ponto de partida.
Porque é aqui que precisas de ajuda: a responder à questão …
“Como é que, na minha vida real super ocupada, posso comer mais vegetais?”
Esta é a grande mudança que podes (deves) fazer para te sentires MUITO melhor todos os dias!
Para te inspirares nas minhas receitas:
Segue por AQUI.
Para ler mais sobre como podes ter a minha AJUDA e mudar a tua alimentação de uma vez por todas:
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